Criada por Karim Aïnouz e Sérgio Machado a produção tem 13 episódios iniciais que serão exibidos simultâneamente para toda a América Latina. E para todo o mundo através da internet.
A história gira em torno de Alice (Andréia Horta), uma jovem que vive em Palmas, Tocantins onde trabalha para a Secretaria de Turismo. Ela está de casamento marcado com Henrique o dono de uma loja de produtos de pesca. Ao receber a notícia da morte de seu pai, Alice parte para São Paulo onde reencontra após muitos anos, sua tia, uma das "últimas representantes" do movimento hippie brasileiro. É na casa da tia Luli que Alice fica por alguns dias nos quais passa a entrar em contato com a cidade e seus moradores, sofrendo o choque de cultura. Alice reencontra também sua meia-irmã, Regina Célia (Daniela Piepszyk), com quem tenta criar um laço de amizade, sua madrasta Irislene (Carla Ribas), com quem deverá criar um certo conflito em relação a sua herança; e novos amigos. Um deles, Nicholas, trabalha em uma produtora e consegue para ela alguns trabalhos.
Por curiosidade, três atores da série, Carla Ribas (Irislene), Vinícius Zinn (Nicholas), e o ator que interpreta seu irmão formaram a família do filme "A Casa de Alice", de Chico Teixeira.
A HBO preparou uma campanha de marketing para o lançamento da série que incluíram um Site Oficial. Outra forma de atrair a atenção do público jovem foi a distribuição de pen drives exclusivos em Universidades e baladas. Nos drives, fotos, wallpapers e videos das séries que posteriormente foram disponibilizados em um outro site. A personagem também tem um MSN, que apresenta novidades da produção e informações das histórias.
Criada com a intenção de se tornar mais uma produção de sucesso da HBO latina, "Alice" desaponta. Trata-se da terceira produção brasileira do canal, que já lançou "Mandrake" e "Filhos do Carnaval", todas com um grande apuro técnico e de visual, mas que pecam no desenvolvimento de seus roteiros e personagens. Das três, "Filhos do Carnaval" torna-se a melhor em questão de roteiros.
A julgar pelos dois primeiros episódios exibidos em coletiva à imprensa, "Alice" se acomoda no uso constante de situações clichés, diálogos fracos (às vezes redundantes) e um desenvolvimento de personagem que revela insegurança e receio por parte de quem escreve. Talvez as pressões e as responsabilidades com a produção e a obrigação de torná-la um sucesso, tenham inibido os roteiristas em tentar criar algo mais original; talvez a busca por uma "identidade brasileira" tenha confundido o que é ou não é brasileiro (se é que isso é necessário). O fato é que a história não se desenvolve, ao menos, nos dois primeiros episódios.
A pressa em narrar a situação e estabelecer os personagens é o grande detrimento do episódio piloto. Sem se darem conta de que se trata de uma série e que há tempo suficiente para estabelecer a história, os roteiristas apelaram para as explicações quase didáticas de quem é quem e o que cada um quer da vida. Com isso resultou em situações que chegaram a ser redundantes com diálogos desnecessários. O segundo episódio não melhora a situação da série, ao trazer uma situação mais do que batida: uma menina briga com a mãe, foge de casa, se perde na cidade grande e é resgatada por pessoas consideradas marginais.
Temos ainda o mote, ou o principal objetivo, da série: o choque de culturas, o qual, infelizmente, não se estabelece nestes dois primeiros episódios. Isto porque Alice não tem a cultura e o estilo de vida de uma jovem que vive na distante Tocantins, mas a de uma jovem de cidade grande como Rio de Janeiro ou São Paulo. Com isso, o choque de cultura não existe.
Outro problema é que Alice não passa por nenhuma dificuldade real ao tentar estabelecer-se em São Paulo. Ela tem casa, comida, amigos e trabalhos instantâneos. Ao podar as situações que poderiam de fato gerar um conflito cultural, economômico e pessoal, os roteiristas desperdiçaram uma grande oportunidade de explorar o verdadeiro choque de culturas que a série proporcionaria.
Os personagens secundários também não colaboram, embora tenham potencial para criar situações e desenvolver histórias que poderiam ser interessantes, alguns até mais que a situação da protagonista. Não fica claro se algumas situações introduzidas no piloto serão desenvolvidas ao longo da série, como por exemplo a herança de Alice que fica toda com a madrasta, a qual não admite dividir o patrimônio. Aqui teríamos (ou teremos, vai depender do rumo da série) uma situação que poderia ser de fato explorada: a briga judicial para receber parte da herança que lhe é devida. Não há necessidade de se explicar o que é o sistema judicial brasileiro. Expô-lo em uma série é algo que a TV, especialmente este gênero, poderia fazer com grande maestria, apresentando as irregularidades e as realidades pelas quais muitos brasileiros precisam passar para ter seus direitos legais assegurados.
Outra situação que já se apresentou e que deverá ser desenvolvida é a da tia de Alice. Embora irreal (ela é uma ex-hippie que está bem de vida tendo apenas um brechó como ganha pão), é uma solteirona, infeliz, que vive fumando maconha e buscando novas experiências, mas consciente de que a idade chegou.
Por fim, temos os atores. Como já comentei neste blog temos um grande problema com nossos atores brasileiros que estão acostumados a uma estrutura de novela. Não tendo um preparador de atores, suas atuações ficam comprometidas. No caso de "Alice", existe um preparador de atores, Fátima Toledo, que já trabalhou com filmes como "Cidade de Deus", "Cidade dos Homens, e muitos outros. Com seu trabalho, a atuação dos atores fica assegurada.
No entanto, nestes dois primeiros episódios vê-se claramente que nem todos conseguiram "vestir" os personagens que interpretam. Já trabalhei no Studio da Fátima Toledo, conheço seu método de trabalho e sua proposta de atuação e não vi isso na série. O que vi foram atores confusos e inseguros, com exceções, como a protagonista que no fim, acaba se destacando justamente por isso...além da beleza, mas isso era proposital.
Fernanda Furquim (adaptado)