No princípio dos princípios, o mundo era só de mulheres. Elas lavravam, caçavam, construíam e a vida florescia. Os seres humanos, como a flora, nasciam do solo. Bastava semear uma aboboreira e as abóboras abriam-se como ovos de galinha, deixando sair as mulheres mais lindas do planeta. Um dia, uma das mulheres caçou um ser estranho. Parecia gente, mas não tinha mamas. Tinha cabelo no queixo e, contrariamente aos outros bichos, tinha uma cauda curta à frente e não atrás. Prenderam aquele ser e levaram-no à rainha. A rainha olhou, espantou-se. Mandou lavar aquele animal e trazê-lo para junto dela. O animal tinha magia. Só o olhar dele provocava umas massagens concêntricas no coração, no peito, na mente. Quando lhe tocava, o sangue corria e o coração batia. A rainha deu por si a executar a dança da lua e da cobra com os lábios suspirando poemas nunca antes recitados. Da cauda do animal cresceu uma serpente, tímida, violenta, que derrubou a rainha à procura de um abrigo para esconder a cabeça. Encontrou um subterrâneo, entrou de imediato e se escondeu. A rainha estremeceu e rendeu-se. Soltou o primeiro suspiro de amor e descobriu que o animal era, afinal, um homem. Ela começou a engordar, a engordar e nunca mais conseguiu caçar. Passado um tempo, um filho nasceu.
O animal foi ao seu reino e falou da sua descoberta. Afinal ele também era rei. Convidou os seus para uma expedição àquele país de maravilhas. Os homens vieram, colonizaram todas as mulheres e instalaram-se como senhores. Foi assim que surgiu o primeiro amor e o primeiro ódio. Recebidos com amor, roubaram o poder às mulheres e por isso foram condenados a caçar cada vez mais longe e a trabalhar cada vez mais para sustentá-las.
Distinguido escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro
Lisboa, 26 Jul (Lusa) - O escritor brasiliro João Ubaldo Ribeiro foi hoje distinguido com o Prémio Camões 2008, o mais importante galardão atribuído a autores de língua portuguesa.
É o oitavo escritor brasileiro a ser distinguido com este prémio, que na sua edição anterior foi para o português António Lobo Antunes.
Instituído pelos governos português e brasileiro em 1988, o Prémio distingue, anualmente, um autor que, pelo conjunto da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa.
Este ano, o vencedor foi escolhido por um júri de que fazem parte Maria de Fátima Marinho, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Maria Lúcia Lepecki, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Marco Lucchesi, escritor e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ruy Espinheira Filho, escritor, jornalista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), João Meio, poeta e jornalista angolano, e Corsino Fortes, diplomata e presidente da Associação de Escritores Cabo-verdianos.
Miguel Torga inaugurou em 1989 - o primeiro ano da atribuição do prémio - a lista dos vencedores.
Desde então, foram distinguidos nove autores portugueses, oito brasileiros, um moçambicano e dois angolanos. Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau não viram ainda qualquer dos seus escritores premiado.
ARP/NVI/RMM.
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Sociedade de Autores pede a júri que justifique limitação a brasileiros
TSF - O vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) aplaudiu, este sábado, a atribuição do Prémio Camões a João Ubaldo Ribeiro, mas estranhou a decisão do júri de nesta edição apenas avaliar escritores brasileiros.
De Ubaldo Ribeiro, José Jorge Letria distinguiu a capacidade de «combinar a inovação no processo narrativo com um olhar muito interventivo e atento da realidade contemporânea».
Para o vice-presidente da Direcção da SPA, o escritor brasileiro «representa a verdadeira ponte cultural entre duas realidades transatlânticas», sublinhando que a atribuição do Prémio foi «justa» e que Ubaldo Ribeiro «há muito a merecia».
Letria considerou ainda que a distinção veio «num bom momento», uma vez que Portugal assumiu sexta-feira a presidência da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Quanto à decisão do júri de só analisar no concurso deste ano escritores brasileiros, apelou a que sejam apresentadas as razões para este «regime de excepção».
«Se não forem apresentadas razões parece-me injustificável. Em abstracto não me parece haver justificação. Espero que o júri apresente razões. Não me parece aceitável esse regime de excepção», comentou em declarações à agência Lusa.
Vídeo: O escritor, e vencedor do Prémio camões, falou aos jornalistas no final da cerimónia de entrega do galardão, para lembrar os escritores brasileiros esquecidos
Nascido numa família de classe média católica, aos sete anos Paulo Coelho ingressa em um colégio jesuíta da então capital do Brasil.
No fim da década de 1960, adere ao movimento hippie, quando conhece Raul Seixas, de quem se torna parceiro em diversas músicas que exercem influência no rock brasileiro (embora muitas fontes aleguem que Raul Seixas era quem compunha sozinho, mas colocava sempre o nome de Paulo). Participa então da dita "Sociedade Alternativa" e compõe para diversos intérpretes, tais como Elis Regina, Rita Lee e Rosana Fiengo.
Seu fascínio pela busca espiritual, que data da época em que, como hippie, viajava pelo mundo, resultou numa série de experiências em sociedades secretas, religiões orientais, etc. A edição do seu primeiro livro foi em 1982, Arquivos do Inferno, que não teve repercussão desejada. Lançou o seu segundo livro O Manual Prático do Vampirismo em 1985, que logo mandou recolher considerando o trabalho de má qualidade. Conforme suas próprias palavras, confessa: “O mito é interessante, o livro é péssimo”.
Em 1986, Paulo Coelho fez a viagem de peregrinação pelo Caminho de Santiago. Percorreu quase 700 quilômetros a pé do sul da França até a cidade de Santiago de Compostela na Galiza, experiência que relata em detalhes no livro O Diário de um Mago, editado em 1987. No ano seguinte, publicou O Alquimista, que - apesar de sua lenta vendagem inicial, o que provocou a desistência do seu primeiro editor - se transformaria no livro brasileiro mais vendido em todos os tempos; O Alquimista é um dos mais importantes fenômenos literários do século XX. Chegou ao primeiro lugar da lista dos mais vendidos em 18 países, e vendeu, até o momento, 41 milhões de exemplares.
Como escritor, apesar das críticas, ocupa as primeiras posições no ranking dos livros mais vendidos no mundo. vendeu, até hoje, um total de 92 milhões de livros, em mais de 160 países, tendo suas obras traduzidas para 66 idiomas e sendo o autor mais vendido em língua portuguesa de todos os tempos, ultrapassando até mesmo Jorge Amado, cujas vendas somam 54 milhões de livros.
Sua penúltima obra, O Zahir, foi lançada primeiramente no Irã, para que lá pudesse ser registrada como obra local e que fossem processados aqueles que fizessem cópias ilegais do livro em língua persa. Para escrever O Zahir, Paulo Coelho instalou-se por uma temporada no Casaquistão, país onde a obra se desenvolve.
No fim de 2006 o autor lançou seu mais novo livro A Bruxa de Portobello, que figura na lista dos mais vendidos no Brasil desde então. A história é construída apenas por depoimentos das personagens fictícias, respeitando a parcialidade de cada uma.
Paulo Coelho escreve seus livros em um apartamento na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, e possui uma casa para retiro na França, na região dos Pireneus.
Em 2007, Paulo Coelho fez uma partipação na novela Eterna Magia, representando Mago Simon, representação humana do grande Dagda, deus supremo da mitologia celta.
Academia Brasileira de Letras
Não deixou de causar grande surpresa a eleição, em 25 de julho de 2002, de Paulo Coelhopara a Academia.A instituição tinha um histórico de rejeitar autores de sucesso, ditos "populares" - e dela ficaram foraDrummond, Vinícius, Mário Quintana e outros tantos autores reconhecidos.
Apesar de sua popularidade, Paulo Coelho é também alvo de fortes críticas de vários segmentos da sociedade, que abarcam tanto o mérito espiritual quanto literário de sua obra. Algumas opiniões desaprovam os seus livros e os qualificam como "literatura esotérica de auto-ajuda". Muitos de seus textos possuem erros de concordância e gramaticais, muitas vezes corrigidos em edições posteriores ou em sua versão para outros idiomas - minimizando a crítica estrangeira. A falta de fidelidade quanto aos fatos torna-se evidente quando cotejados com situações verídicas, como o transpor de distâncias não factíveis no tempo determinado quando em peregrinação. A mesma crítica também contesta seu ingresso na Academia Brasileira de Letras.
"Aceito com gosto esta responsabilidade e me comprometo a fazer o máximo para melhorar o futuro desta e das próximas gerações", declarou o escritor brasileiro ao saber de sua nomeação. Os Mensageiros da Paz são designados pessoalmente pelo secretário-geral das Nações Unidas, com base em seu trabalho em campos como artes plásticas, literatura ou esporte, e seu compromisso de colaborar com os objetivos da ONU.