Tudo o que vem à rede é peixe

24
Abr 10

Há anos que o 25 de Abril, para além do sermão presidencial na assembleia da república, anda atrelado ao carro da esquerda, especialmente ao da esquerda comunista. A apropriação esquerdista, consentida pelos “capitães de Abril”, reduziu a efeméride a uma espécie de outro 5 de Outubro, celebrado apenas por sectários. No entanto, o 25 de Abril não foi originalmente feito simplesmente para implantar o socialismo. E, a propósito, também não foi feito simplesmente para implantar a democracia. As ditaduras não comoviam então muita gente, ou, melhor, comoviam quando eram protagonizadas pela seita do outro lado: a esquerda achava abomináveis e inexplicáveis as ditaduras de direita, e a direita achava inexplicáveis e abomináveis as ditaduras de esquerda. Mas nesses anos poucos acreditavam que o futuro da humanidade passasse pela democracia liberal. Só cerca de metade dos estados soberanos que existiam então na Europa eram democracias representativas. No mundo, no ano 1972, em 145 estados independentes, a Freedom House classificava como totalmente “não-livres” 46,2 por cento, e como inteiramente “livres” apenas 29 por cento. Ninguém considerava as ditaduras incompatíveis com o progresso, pelo contrário. A prova era que Portugal registava então taxas de crescimento económico das maiores do mundo – calculou-se depois que, caso Portugal tivesse mantido esse ritmo de crescimento, teria atingido o nível de riqueza médio dos estados da Europa ocidental em 2009. Os últimos anos do Estado Novo foram, de resto, o início de uma grande transformação: começaram a esvaziar-se as aldeias e a emergir uma nova classe média urbana. O que justificava as ditaduras como a portuguesa era, em geral, a polarização ideológica do mundo entre os Estados Unidos da América e a União Soviética. Tanto os ditadores de esquerda como os de direita explicavam que a liberdade tinha sido uma coisa própria do século XIX, mas que fazer eleições abertas a todos ou levantar a censura à imprensa, seria apenas ajudar o “outro lado” a subverter a ordem pública da qual dependia o progresso social e económico. A esquerda comemorava desvanecidamente Mao Zedong e Fidel Castro, em cima das suas respetivas pilhas de cadáveres; a direita, mais discreta, descobria aspetos positivos nas ditaduras militares latino-americanas.

Isto não quer dizer que o regime autoritário fosse estimado por todos os portugueses. Em 1973, numa sondagem à opinião pública metropolitana nas cidades com mais de 10 000 habitantes, a percentagem dos entrevistados que concordou com a frase “é melhor que um homem competente tenha autoridade e decida por nós” foi de 20,5 por cento, enquanto 65,8 por cento preferiram a frase “é melhor que todos nós nos interessemos e consideremos responsáveis”. É verdade que tal escolha não significava necessariamente oposição ao regime, porque o interesse e a responsabilidade de todos eram temas em que o chefe de governo, Marcello Caetano, insistia muito. Mas era óbvio que o Estado Novo não conseguiria tornar-se o quadro dessa participação: só 34,4 por cento dos inquiridos estavam recenseados, e apenas 21, 3 por cento tinham votação nas eleições legislativas de 1969. Os grupos mais críticos do governo eram a classe média alta e as pessoas com nível de instrução superior, por contraste com o que os inquiridores designavam como “o conformismo das classes baixas”. Em todos os grupos, as maiores taxas de desaprovação da política do governo encontravam-se a propósito de questões sociais e económicas, como a “habitação” (39, 6 por cento contra) e o “custo de vida” (36, 4 por cento). Era natural, no momento em que o próprio Caetano admitia o fim das “vacas gordas”: entre 1973 e 1974, o crescimento económico abrandou e a inflação, ajudada pela subida dos preços do petróleo, pulou de uma taxa média de 5,2 por cento (no período de 1965-73) para uma taxa de 25 por cento (entre março de 1973 e Março de 1974). No que diziam respeito à “liberdade de reunião e associação”, 19,7 por cento dos inquiridos em 1973 desaprovavam a política do governo, mas 25,8 por cento aprovavam ( os outros não respondiam). Mas no que se referia à “informação e censura”, as proporções invertiam-se: 30, 4 por cento desaprovavam e apenas 17, 4 por cento aprovavam. Havia mais gente que queria ser informada livremente do que gente que preferia ver a informação paternalmente administrada pelo arbítrio governamental.

Mas não foi para acabar com a censura nem para parar a inflação que se fez o golpe de 25 de Abril de 1974. As razões do golpe não tiveram que ver com a natureza ditatorial do governo de Portugal ou com a subida dos preços do petróleo, mas com os problemas decorrentes da natureza do estado português enquanto agregação de territórios em vários continentes. Desde a década de 1950, que tanto os EUA como a União Soviética contestavam os impérios adquiridos na África e na Ásia pelos estados da Europa Ocidental. Ao contrário de outros impérios coloniais, como a própria União Soviética ou a China Comunista, os impérios ocidentais eram facilmente reconhecíveis por serem territorialmente descontínuos: eram, em geral, ultramarinos. O “ultramar português” estava nesse caso. A 15 de Dezembro de 1960, a assembleia geral das Nações Unidas aprovou, por 68 votos a favor, 6 contra, e 17 abstenções (entre elas, a dos EUA), a resolução 1542 que definia como “territórios não autónomos” todos os territórios ultramarinos portugueses. O governo português, que entrara na ONU em 1955, protestou que tinha sido violada a Carta da organização, a qual estipulava que cabia a cada estado membro declarar quais dos seus territórios se poderiam classificar como não-autónomos. Poucos meses depois, vários partidos independentistas ilegais, com base no estrangeiro, iniciavam uma sublevação armada no norte de Angola.

Em 1974, a guerra contra os partidos separatistas armados no ultramar durava havia treze anos. Em 1973, cerca de 90 000 jovens oriundos da metrópole cumpriam serviço militar em África – o equivalente a 1 por cento da população metropolitana. Não admira que, em 1973, a citada sondagem à opinião revelasse que, quando perguntamos acerca de qual era “o objetivo político mais importante para os próximos anos”, 53 por cento dos inquiridos tivessem respondido “que haja paz”, e apenas 3,7 por cento “que exista democracia”. É pela guerra em África que precisa começar quem quiser perceber o golpe de 25 de Abril de 1974.

 

Rui Ramos, Outra Opinião, Ensaios de História, ISBN 972-9437-21-1, pág. 59-62

publicado por RiViPi às 19:50
música: C1
sinto-me: Rui Ramos, historiador

05
Out 09
Hoje é feriado em Portugal. Celebra-se o 5 de Outubro. Dia da implantação da república que ocorreu em 1910. O rei foi assassinado e toda a sua máquina governativa foi deposta. Por isso, compreendo que esta data não tenha sido celebrada na época e que muitos dos actuais seguidores da monarquia não a celebrem também. Já passaram quase cem anos. Vivemos no que chamos a 2º República que surgiu após o fim da ditadura de Salazar que foi o resultado do fracasso da 1ª República. Longe do debate do ínicio do século, os defensores dos antagónicos sistemas governativos parecem levantar de novo o debate. A conjuntura económica, política e social actual pouco tem da do início do século mas ainda assim parece haver alguns ódios intestinais. O Bom Português apresenta em seguida dois artigos retirados do jornal i para que o leitor entre no debate.

Daniel Oliveira[i]: Quero um plebeu como eu
É possível haver democracia numa monarquía? Claro que é. A mais velha democracia do mundo tem uma rainha e até tem uma Câmara dos Lordes. Nada de novo: as democracias sempre conviveram com elementos antidemocráticos vindos do passado. O que é antidemocrático na causa monárquica é isto: contraria a ideia simples de que todos nascemos livres e iguais. Aceitar que uma família pode ser o símbolo de uma nação, por mais incapazes ou impopulares que sejam os seus elementos, é negar os fundamentos da democracia. Aceitar que eu e o meu caro leitor estamos impedidos, por não termos o sangue certo, de chegar à chefia de Estado do nosso país é, mesmo que pareça inofensivo, uma violência política.
É também a negação do mérito. E isso explica porque entre os monárquicos estão, maioritariamente, descendentes de famílias que foram aristocratas. A nostalgia que sentem é a de um tempo em que o seu valor era indiferente ao que faziam ou contruiam na vida. E não me venham falar de monarquias liberais ou constitucionais. O resultado lógico do fim do governo do rei seria, como foi em quase todo o lado, o fim da própria monarquia e dos seus símbolos anacrónicos. Em alguns países com problemas de coesão nacional (Reino Unido, Bélgica, Espanha), eles sobreviveram como instrumento de unidade contra os perigos do voto. Podemos compreender. Mas é apenas um mal menor dispensável em Portugal.
Quando fazemos do Presidente o símbolo da nação, fazemo-lo porque ele representa o povo materializado através do voto e da escolha do melhor entre os seus. Em democracia, que é a única forma de governo republicano legítima, o presidente representa a unidade depois da divisão, do debate e da escolha. Numa monarquia, o rei representa a continuidade de um privilégio, a ausência de debate e confronto, a unidade imposta e vinda do passado. Numa república, a nação é o seu povo na figura do presidente. Numa monarquia, o povo é a sua nação na figura do rei. Por isso, numa república, o cidadão comum é elegível para todos os cargos. Por isso, numa monarquia, o cidadão comum está condenado à condição de súbdito.
O que os rapazes do 31 da Armada, todos com nomes sonantes e cheios de história, exigiram quando treparam à varanda dos Paços do Concelho foi que lhes fossem devolvidos os privilégios do passado. Não serão. Que me lembre, nunca nenhuma república passou a monarquia na vigência de uma democracia. Porquê? Porque nós, os plebeus, somos a maioria. E a maioria de nós, de sangue apenas vermelho, prefere escolher entre os seus quem melhor a represente. Já passaram quanse cem anos. Já se podiam ter habituado à ideia.
 
Rodrigo Moita Deus[ii]: A luta continua, o rei para a rua!
Em Portugal não há republicanismo.Nem doutrina republicana.Nem sistema republicano. O que existe é uma longa tradição antimonárquica.
Sim. É verdade. Os monárquicos são uma minoria. Dez por cento dos portugueses. Se tanto.Os republicanos são outra minoria. Dez por cento dos portugueses. Se tanto.
Os outros 80% são “marimbistas”. Ou seja, estão a marimbar-se. O que não é bom. Nada bom mesmo.
Dez por cento são republicanos – e duvido que o sejam mesmo. Em Portugal não há republicanismo. Nem sistema republicano. Nem doutrina republicana. O que existe é uma longa tradição antimonárquica. A vantagem de um sistema republicano, dizem eles, é evitar as desvantagens de um sistema monárquico.
E por isso mesmo não se consegue discutir a questão do regime. Os argumentos não giram em torno da bondade das propostas. Os argumentos giram em torno dos palácios dos marqueses, das herdades dos duques e das fortunas dos condes. Discutimos a vida dos outros, os seus privilégios e a sua vida. A sua qualidade de vida.
Cento e sessenta anos depois da publicação do “Manifesto Comunista”, discutimos a questão monárquica como se fosse o derradeiro episódio da eterna luta de classes. Discutimos sempre a aristocracia. Luta de classes. À antiga marxista. O que não deixa de ser irónico.
Cem anos depois, os únicos que têm palácios, herdades e fortunas são os comendadores da república. E aqueles que mais brincam com os anéis de brasão herdam orgulhosamente medalhinhas republicanas.Mais recentemente até se instituiu o hábito de herdar círculos eleitorais.
À semelhança de todos os sistemas que acreditam na luta de classes, a república tem uma estranha forma de lidar com a redistribuição de riqueza. Tal como tem uma estranha forma de lidar com a democracia.Porque na luita de classes há sempre “ intelectuais” que devem “guiar” o proletariado e o campesinato analfabeto.Os mesmo “intelectuais” que proibiram constitucionalmente os portugueses de escolher entre monarquia e república. Eles sabem o que é melhor para nós. Para o povo. E em quase cem anos fica o regime a dever-nos 16 de caos, 41 de ditadura e três de PREC.
Assim vamos. Guiados pelos intelectuais do outro século. Pelos preconceitos do outro século. A discutir a questão do regime como se estivéssemos a falar da revolução industrial. Tenho más notícias: os tempos mudaram. E, um destes dias, temos mesmo de discutir a questão.
Bem sei. Temos assuntos mais urgentes para tratar. A crise, o défice, a gripe e os laterais do Benfica. Tudo é mais urgente.A forma de Estado é importante mas não é urgente. E o urgente nunca deixa tempo para o que é importante.Mas andamos de urgência em urgência há noventa e nove anos. E não consta que tenha resultado.  

[i] É colunista do semanário “Expresso” e do “Record”, comentador do Eixo do Mal, na SIC/Notícias, ex -jornalista e fundador do Bloco de Esquerda, partido de que foi dirigente.

[ii] Tem 31 anos e 3 filhos. Foi jornalista, passou pela Assembleia da República, pela Fundação Champalimaud – e hoje é consultor na LPM. É um dos editores fundadores do blogue 31 da Armada e esteve envuelto no episódio da bandeira na Câmara de Lisboa.

publicado por RiViPi às 16:04

23
Jun 09

19.06.2009 - 09h48 Ana Machado in Púublico.pt

Chama-se Sumário de Questões sobre os Céus. É um documento de 100 páginas, com prefácio. E a estrutura do texto vem no formato de perguntas - colocadas por um chinês - e de respostas - dadas por um ocidental com conhecimento de astronomia. O ocidental era um padre jesuíta português, chamado Manuel Dias. E foi ele quem apresentou Galileu e as suas descobertas à China, em 1614, apenas três anos depois de o trabalho de Galileu ter sido publicado.

Há dez anos que Henrique Leitão, investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, andava atrás deste documento e do contributo de Manuel Dias para o conhecimento da astronomia e dos achados de Galileu na China. Sabia da existência do documento, onde o jesuíta Manuel Dias contava como funcionava o telescópio de Galileu e o que o mestre italiano teria descoberto sobre as maravilhas do Universo. "É um texto que está em todas as bibliotecas imperiais chinesas, o original é de 1615. Mas foi reeditado até ao século XIX, o que significa que teve imenso impacto na cultura chinesa. Notícias de que havia este texto existem desde o princípio do século XX. Mas nenhum português pensou: vamos lá ler o que vem aqui escrito."

Mas, tratando-se de um documento em chinês, Henrique Leitão precisava de alguém que lesse chinês clássico e soubesse de história da ciência para o poder interpretar. Lembrou-se então de um antigo colega de liceu, chamado Rui Magone. Não se viram durante anos. Voltaram a ver-se em Berlim em 2002 e trocaram as perguntas do costume. Henrique Leitão dedicava-se então à física. Mas a história da ciência, que haveria de o ocupar em exclusivo, tentava-o. Rui Magone contou como tinha chegado ao estudo do chinês e da cultura chinesa. Quando Henrique Leitão decidiu dedicar-se ao documento de Manuel Dias, lembrou-se então do sinólogo amigo de liceu. Rui Magone precisou de cinco horas para uma primeira leitura do documento em chinês clássico.

Investigador do Max Planck Institute de História das Ciências, Magone aproveitou uma visita este mês a Lisboa - para uma conferência na Universidade Católica sobre a sua especialidade, o sistema de exames chinês (a forma antiga para seleccionar os intelectuais chineses) - para se dedicar ao estudo aprofundado deste documento, juntamente com Henrique Leitão.

"É incrível como em Portugal ninguém sabe disto. Para Portugal, no ano em que se comemora o Ano Internacional da Astronomia, 400 anos depois das primeiras observações de Galileu, esta é a história mais importante que se podia revelar."

Henrique Leitão frisa a própria estrutura do texto como um dos aspectos mais interessantes do documento: "Já existiam documentos de autores ocidentais sobre astronomia traduzidos na China no século XVII. Mas este é mais vivo, é uma conversa", diz Henrique Leitão, enquanto folheia a cópia do documento de Manuel Dias, enviada pela Academia Sínica, a grande instituição de investigação de elite chinesa. "Mostra que os jesuítas sabiam o que interessava aos chineses sobre a astronomia ocidental."

E o que é que interessava aos chineses? "Por exemplo, na China havia um interesse enorme pela previsão de eclipses. Um eclipse que não estivesse previsto era encarado como um mau sinal, como se o céu não estivesse contente com os imperadores e mandassem aquele recado do céu", explica Rui Magone. O que é a Terra, o horizonte, a latitude e longitude, o equador celeste, são algumas das noções explicadas na sequência de perguntas e respostas do documento de Manuel Dias.

"Tem tabelas com as várias latitudes na China. São as primeiras tabelas destas na China. Não havia ainda a noção de latitude na cosmografia chinesa", conta Henrique Leitão folheando as páginas, nas quais só consegue descodificar as imagens, como uma criança que folheia um livro ilustrado. "São perguntas e respostas que revelam o conhecimento do comunicador e aquilo que o interlocutor ansiava por saber", diz o investigador.

A fotocópia do documento que folheia em cima da mesa, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é uma reedição do século XVIII. Mas ainda não desistiu de encontrar a primeira edição. "Andamos atrás dela. Ou está em Oxford ou na Biblioteca do Vaticano", diz, referindo que, para além de estar presente nas bibliotecas pessoais dos imperadores chineses, este documento deve ter exemplares em bibliotecas europeias. "Mas nunca foi procurado com cuidado na Europa."

Henrique Leitão volta a centrar-se numa imagem, a de um círculo, com dois outros pequenos círculos que o orbitam, exemplificando um dos maiores achados de Galileu, as fases de Vénus, que desmontavam o sistema de Ptolomeu e sustentavam a teoria heliocêntrica apresentada por Copérnico.

No final do documento lá vem a alusão às observações feitas por Galileu, em 1611. Rui Magone ajuda a descodificar para lá das imagens: "Refere-se nas últimas páginas a um sábio ocidental famoso que revelou segredos do Sol, da Lua e outros objectos, mas que, com os olhos já frágeis, construiu um instrumento para os observar", conta o sinólogo. E Manuel Dias prometia relatar mais novidades sobre o assunto assim que lhe chegassem mais dados.

A Aula da Esfera

No início do século XVII, a Companhia de Jesus dominava a educação no mundo com uma enorme rede de jesuítas dedicados ao ensino, quase 700. O ponto central da rede localizava-se em Roma e, a partir daí, multiplicava-se em vários ramos, ou assistências. Uma dessas assistências, a portuguesa, propagou-se pelo mundo todo, do Brasil à China, passando pela Índia, Japão e Timor.

"Era a maior assistência dos jesuítas e a que tinha menos efectivos, pelo que tiveram de importar estrangeiros", conta Henrique Leitão sobre o recurso na altura a jesuítas italianos, que divulgaram precocemente em Lisboa os feitos dos sábios da época, entre eles Galileu.

Um desses jesuítas, Giovanni Paolo Lembo, que era até amigo pessoal de Galileu, chega a Lisboa em 1614 e no ano seguinte já ensinava na "Aula da Esfera", a aula de Matemática do colégio jesuíta de Santo Antão. Os apontamentos portugueses de Lembo são mesmo famosos, porque têm as mais antigas instruções conhecidas no mundo sobre a construção de telescópios.

Henrique Leitão e Rui Magone explicam que terá sido este conhecimento tão profundo dos jesuítas em Portugal em relação aos feitos de Galileu que fez com que as descobertas do sábio fossem tão precocemente reveladas em Lisboa, e depois no mundo, através da rede da Companhia de Jesus.

Manuel Dias, que nasceu em Castelo Branco em 1574 e que ingressou na Companhia de Jesus em 1593, estudou Filosofia em Coimbra antes de partir para a Índia, Macau e entrar na China em 1610. Chegou a Pequim em 1613, onde redigiu o Sumário de Questões sobre os Céus. Ironicamente os jesuítas na China estavam proibidos de ensinar disciplinas não religiosas, como a Astronomia ou a Matemática. Entre 1625 e 1635 Manuel Dias foi a autoridade máxima da companhia na China. Morreu a 4 de Março de 1659.

"Como é que é possível que alguém em Pequim tenha sabido disto em 1614, quando estas observações de Galileu são de 1611, apenas três anos antes?", questiona Henrique Leitão, acentuando o papel do documento de Manuel Dias. Até ao século XX, quando um chinês queria informar-se sobre Galileu, era este texto de Manuel Dias que lia. "E em Portugal ninguém liga", observa sobre o papel deste jesuíta, que não se resume a este documento. "O primeiro globo da China é feito por Manuel Dias e pelo italiano Nicolau Longobardo. É de 1623, quando ainda não havia noção na China de que a Terra era esférica. A toponímia é toda portuguesa. Ainda existe e está na British Library."

publicado por RiViPi às 13:55

25
Mai 09

Francisco Alves Mendes, mais conhecido como Chico Mendes, nasceu no mês de dezembro de 1944  numa povoaçāo da floresta amazónica chamada Seringal. O seu pai ganhava a vida  como seringueiro, isto é, extraindo latex das árvores da borracha.

Aos nove anos Chico começou a trabalhar na floresta com seu pai porque os donos da terra nāo permitiam ter escolas. Chico não pôde  aprender a ler até aos vinte anos de idade.

 

Trabalhou para a melhoria das condiçōes de vida dos trabalhadores da Amazónia e criou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Também lutou, com a resistência pacífica, contra os poderosos donos de terra: madereiros, seringais e fazendas de gado.

 

Nessa época recebeu as primeiras ameaças de morte por parte dos fazendeiros. Foi acusado de subversāo, detido e torturado secretamente, mas foi absolvido por falta de provas. É preciso ter em conta que no Brasil governava uma ditadura militar.

Convertido em simbolo da luta para defender os povos da floresta, Chico Mendes recebeu a visita dos membros da UNEP ( Organizaçao das Naçōes Unidas para defesa do meio ambiente. Foi convidado a fazer denúncias no Congresso norteamericano em Washington. O resultado dessa viagem foi imediato: os financiamentos dos desmatamentos na floresta foram suspensos.

 

Recebeou reconhecímento e vários prémios em todo o mundo pela sua defesa da ecologia.

Pouco mais de um ano após a sua viagem aos Estados Unidos, acabava de completar 44 anos, quando foi assasinado na porta da sua casa.

Em 1990, o fazendeiro Darly Alves e seu filho Derli, foram julgados e condenados a 19 anos de prisāo, pela morte de Chico Mendes.

 

 

Como disse Chico “ No começo pensavam que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensavam que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”

( copiado literalmente)

 

David Paniego Ballesteros (Aprendente de Português Língua Estrangeira):  dapaba@gmail.com

 

publicado por RiViPi às 20:35

04
Mar 09

Esta é, em resumo, a façanha de Raoul Wallenberg:

Este diplomata sueco (também arquitecto e empresário), com sucesso profissional e pessoal (a sua namorada era actriz de cinema), tinha quase 32 anos quando foi enviado, por vontade própria, a Budapest por organizações judaicas dos Estados Unidos numa missão de alto risco para resgatar o maior número possível de judeus.

 

Ele fez assim um caminho sem reviravolta.

 

Pouco depois de chegar foi vigiado e perseguido pelas autoridades nazis de ocupação. Morava cada noite numa casa diferente para não ser localizado. Durante o dia a sua actividade era frenética. Dedicava-se a procurar refúgios aos perseguidos e a dar-lhes documentos de identidade suecos. Com ajuda de outros diplomatas estrangeiros, entre eles o embaixador espanhol Sanz Briz, arriscava a sua vida cada dia; salvando mesmo muitas pessoas no último minuto dos comboios que iam para os campos de extermínio.

 

Assim conseguiram salvar milhares de vidas até o 17 de Janeiro de 1945, quando as tropas soviéticas libertaram Budapest. No entanto, inexplicavelmente, foi detido e desapareceu até hoje em dia.

 

A Fundação Internacional Raoul Wallenberg honra a sua memória e lembra a sua vida ao serviço da humanidade como exemplo para as gerações futuras. Actualmente, uma campanha internacional recolhe assinaturas em todo o mundo - até hoje, por volta de 80.000 - para exigir das autoridades  russas uma pesquisa profunda sobre o desaparecimento dele.

 

Uma lápide sobre a tumba de Aristides de Sousa Mendes (herói português na França ocupada e salvador de muitas vidas) com as palavras do Talmud "Quem salva uma vida, salva o mundo" - embora R.W. tenha perdido a sua - resume a vida destes chamados, pela comunidade judaica "Justos entre as nações", e os seus nomes estão representados pelas árvores plantadas em sua memória  no Museu do Holocausto (Yad Vashem) em Jerusalem.

David P. B., aprendente de português língua estrangeira (Nível Elementar)
Texto corrigido

 


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