Tudo o que vem à rede é peixe

07
Mai 09

"O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente"

 

(...) E fingindo sem cautelas,

Outro poeta disse um dia:

"São mais lindos que as estrelas

teus erros de ortografia..."

 

Deixem falar os poetas,

Que nisto de ortografia,

São fraquíssimos profetas,

Cheios de vã fantasia...

 

Irondino Aguilar (adapt.)

 

 

 

publicado por RiViPi às 01:35

05
Mai 09

Ora, o que está em causa num acordo com o Brasil e com os Países Africanos nem sequer é isso. Será excessivo que se deseje formalizar um consenso relativamente a formas ortográficas, tão arbitrárias (e tão legítimas) as nossas quanto as deles?

Importa, porém, não esquecer que estamos numa época de invasões simbólicas, que nos chegam pelas antenas parabólicas, pela informática; entram-nos em casa com utensílios que nos vêm de fora, sem instruções em português (apesar da lei). Há medidas de política linguística que urge tomar; todavia, se defendemos uma mudança, não é porque os brasileiros, pelo facto de escreverem "oxigênio", deixem o ar mais poluído, nem é porque nós, ao escrevermos "quimérico", sejamos menos sonhadores. Que o Brasil tenha já uma forte influência em Portugal não é mérito de um acordo ortográfico, qualquer que ele seja; poderá ser de outros acordos, mas a todos nós, portugueses, compete fazer com que tais influências não sejam unidireccionais.

Verificamos, por exemplo, que entre a definição das novas bases ortográficas e a respectiva ratificação (que se anuncia) decorreram vinte anos. Que foi feito, nesse plano, pelo poder político? Pelas Instituições Académicas? Por acção da opinião publicada ou da pública?

Tem-se considerado esta como uma questão menor. Mas quando, de vez em quando, algum dos Estados de Língua (oficial) Portuguesa vem acenar com a ratificação do "Acordo", sempre que volta a reacender-se as mesmas reacções estocásticas, casuísticas, sem uma envolvente organizada, que possa neutralizar algumas das mais óbvias fragilidades.

Que foi feito? Rigorosamente nada.

publicado por RiViPi às 22:51

03
Mai 09

Uma mudança ortográfica justificar-se-ia, em nosso entender, houvesse ou não houvesse Brasil, houvesse ou não houvesse Países Africanos. Uma reforma ortográfica justifica-se, numa dimensão intra-sistémica, para manter o equilíbrio de um dado sistema. Intervenções ortográficas são defendidas desde há séculos, desde épocas em que o Brasil tinha um peso negocial insignificante.

A maior intervenção ortográfica teve lugar em 1911, dinamizada por uma comissão de ilustres filólogos (D. Carolina Michaelis de Vasconcelos, Gonçalves Viana, Candido de Figueiredo, Adolfo Coelho, Leite de Vasconcelos, José Joaquim Nunes e outros...) e o Brasil (mal na nossa opinião) não foi sequer consultado (só em 17 de Janeiro de 1912 a Academia Brasileira seria convidada a participar nos trabalhos). Apesar desse grave "incidente", houve no Brasil vozes favoráveis à adopção da Reforma (Anternor Nascentes e Sousa da Silveira são dois ilustres exemplos). O desacordo estava, porém, criado e era da nossa responsabilidade.

A Júlio Dantas devem-se os passos mais significativos no sentido de se chegar a um "acordo" com o Brasil que pudesse atenuar o "abismo" então criado. Tal acordo, ratificado em 1931, teria um percurso conturbado, pois o Brasil iria oscilar entre adopções e rejeições sucessivas. A tentativa mais conseguida iria decorrer em 1945, e a ela nos referiremos adiante.

Do que ficou dito, parece natural a reacção brasileira. Todavia, o problema deve ser visto sob um ângulo diferente. Uma reforma ortográfica tem razão de ser, como dissemos, por razões de política externa, certamente; mas justifica-se principalmente por razões internas do próprio sistema linguístico. Mesmo que não houvesse outros países, uma reforma ortográfica impor-se-ia por razões que avançámos já num outro trabalho*.

Temer que Portugal seja invadido culturalmente pelo Brasil parece-nos um receio injustificado. Por um lado, é ter Portugal e os portugueses em bem pouca conta e, por outro, é ter da cultura portuguesa uma visão excessivamente negativa. Foi sempre esse o argumento mais forte dos puristas contra os estrangeirismos (cf. Rodrigues Lapa, 1977) e, no entanto, foram muitos desses estrangeirismos que emprestaram à nossa língua muito do vigor que ela hoje tem. Portugal já foi invadido várias vezes e não pode dizer-se que a nossa cultura tenha sido destruída. Poderemos nós ignorar as contribuições do árabe, do castelhano, do francês, do inglês, do germânico?

in O Acordo Ortográfico, Francisco Álvaro Gomes
publicado por RiViPi às 23:27

27
Fev 09

Associação de Professores de Português refere que nunca foi consultada sobre a melhor forma de implementar o Acordo Ortográfico

27.02.2009 - 10h16 Lusa

A Associação de Professores de Português (APP) pede decisões "claras e definitivas" sobre a implementação do Acordo Ortográfico no ensino, defendendo a entrada em vigor da nova ortografia em simultâneo com o novo programa de Língua Portuguesa.

"Quem tem de decidir, que decida de uma forma clara, peremptória e definitiva. Há cerca de um ano pedimos esclarecimentos ao Ministério da Educação sobre esta matéria, mas até hoje ainda não nos responderam", lamentou o presidente da APP, Paulo Feytor Pinto, em declarações à Lusa.

O ministro da Cultura anunciou este mês que o Acordo Ortográfico deverá entrar em vigor ainda durante o primeiro semestre de 2009. Relativamente ao sistema de ensino, o semanário Sol adiantou que a sua aplicação deverá arrancar no próximo a título experimental num conjunto de escolas.

Segundo a APP, tudo o que tem vindo a saber-se sobre a implementação da nova ortografia é "sempre excessivamente vago", lamentando, por outro lado, que a associação não tenha sido ouvida sobre esta questão: "Nunca nos pediram a nossa opinião sobre a melhor forma de implementar [o Acordo Ortográfico]. Isso poderia facilitar decisões mais consensuais".

Para Paulo Feytor Pinto, a implementação do novo Acordo Ortográfico no sistema de ensino deveria acontecer ao mesmo tempo que a entrada em vigor do novo programa de Língua Portuguesa do Ensino Básico, cuja discussão pública terminou na segunda-feira.

"Parece-nos muito mais razoável que a nova ortografia entre em vigor quando haja mudança do programa. Tanto quanto sabemos, o Ministério quer introduzir o novo programa em 2010/2011, mas publicamente nunca assumiu nem se comprometeu com essa data", lamentou o responsável.

A associação concorda com a realização de uma experiência piloto num conjunto de estabelecimentos de ensino, já que "nenhum professor português tem a experiência com os seus alunos de mudança de ortografia". "Ninguém em Portugal pode dizer como é que se faz", lembrou.

Paulo Feytor Pinto considera ainda que uma das razões pela qual "é importante decidir depressa" sobre o calendário de implementação prende-se com a questão da formação dos professores: "Se não for decidido de forma clara e definitiva não se consegue planificar nada". A agência Lusa contactou o Ministério da Educação para obter mais esclarecimentos sobre o Acordo Ortográfico, mas não obteve resposta em tempo útil.

Editores e livreiros "expectantes" e "disponíveis" para cooperar
A nova direcção da APEL está "expectante" relativamente ao Acordo Ortográfico e "disponível" e pronta para "colaborar e cooperar" quando "for chamada para tal", disse à o presidente da associação, Rui Beja.

Historiando o processo, Beja relembrou que, quando ainda não havia sido ratificado ou promulgado o Acordo, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) tomou posição "contra".

"A posição da APEL foi dada a conhecer em tempo oportuno por Baptista Lopes [o anterior presidente] e eu tive a oportunidade, na audição parlamentar que houve sobre o tema, de tomar uma posição bastante contrária à aprovação do Acordo nos termos em que estava a ser feita e acabou por ser feita", disse.

Mais de um ano volvido, ratificado e promulgado o Acordo, a posição da Associação adequa-se ao novo quadro - e o seu presidente declara-se "disponível".

"A situação agora é esta: temos um Acordo ratificado e promulgado, um Acordo para pôr em prática, e a APEL está disponível para colaborar, para cooperar e para dar a sua opinião quando for chamada para tal. Até agora, isso não aconteceu", afirmou. Para essa colaboração, a Associação coloca uma questão prévia: "Saber o que vai acontecer".

"Aquilo que vem nos jornais, na comunicação social, é manifestamente insuficiente para sabermos o que está na intenção das entidades oficiais quanto à aplicação do Acordo", justifica Rui Beja. Não são apenas os prazos o que à APEL interessa saber, mas também "a forma".

Por exemplo, questiona o presidente da APEL, "que se passará em relação ao ensino? Quando é e como é que vai ser feita a introdução do Acordo Ortográfico? Que se passará nesse âmbito com os livros escolares? Que se passa com o Vocabulário técnico-científico, instrumento fundamental para que o Acordo possa funcionar com suporte nessa área, uma vez que há diferenças de terminologia que excedem a ortografia?".

Acresce a estas, a questão dos apoios às transformações que inevitavelmente terão de ocorrer, e em não pequena monta "É o Fundo para a Língua Portuguesa que vai ser utilizado para apoiar? E para apoiar o quê, e quem, e como?", pergunta Beja.
O responsável máximo da APEL confia em que todas estas questões serão a seu tempo "esclarecidas". "Para saber as linhas com que temos de nos coser", observa.

Preocupa igualmente Beja um conjunto de questões relacionadas com as bibliotecas escolares, as bibliotecas municipais, os livros adoptados e os livros incluídos na categoria de obras aconselhadas para leitura dos mais novos. Sobre esta matéria sintetiza a sua preocupação numa pergunta: "Que ortografia haverá nesses livros quando, nas bibliotecas, a ortografia é anterior ao Acordo?".

A concluir, Beja reitera que a atitude da APEL é de expectativa e de disponibilidade para cooperar, "optimizando as coisas e tratando-as da melhor forma possível".

"Para isso é preciso informação, para poder saber os caminhos que se tem de traçar, cooperar no que seja possível e receber cooperação, no que seja preciso, das entidades oficiais", insiste.


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