"Não procurem os hematomas. Tenho a pele bastante dura." Foi desta forma que o Nobel da Literatura, José Saramago, iniciou a sua intervenção no lançamento oficial da sua mais recente e polémica obra, ‘Caim’, que decorreu ontem na Culturgest, em Lisboa. Num discurso repleto de ironia sempre que abordava temas ligados à Igreja Católica, o escritor levou às gargalhadas o auditório quando referiu que "é preciso amor e truca-truca", numa explicação do seu ponto de vista sobre a criação divina do Universo.
Apesar de ter deixado claro que não queria falar mais sobre polémicas, Saramago afirmou que se congratula por ter contribuído para o disparar de vendas de exemplares da Bíblia nas últimas semanas e referiu ainda estar imune a todas as acusações, uma vez que, "enquanto existir um edifício assustador chamado Igreja Católica", essas acusações continuarão. Porém, os ataques ao catolicismo não se ficaram por aqui: o Nobel da Literatura ‘aconselhou’ a Igreja a colocar ao lado dos leitores da Bíblia um teólogo, para que não haja "ideias erradas" sobre o livro sagrado.
No final da sua intervenção, aplaudida entusiasticamente por um auditório que se encheu para o ouvir, José Saramago deixou no ar o tema da sua próxima obra. "Porque nunca houve uma greve numa fábrica de armas?", questionou o escritor.
Joana Domingos Sá in O Correio da Manhã